Powered By Blogger

Bem vindo

Espero que você goste do que aqui encontrar.

quinta-feira, 17 de março de 2022

Três letras de peso e leveza

A vida tem dessas coisas… Quando soube da nomeação de Monsenhor Cid como Bispo Coadjutor para a Diocese de Bragança do Pará, passou um filme em minha cabeça, de muitas cenas e recortes. Porém, o mais engraçado, foi recordar os primeiros contatos com ele: eu era coroinha, ele já era O PADRE CID! O seu apelido de três letras contradiziam o peso que tinha (e sempre teve) este nome. Era um “pânico de coroinha” servir com ele. Errar um passo no Altar era a maior repulsa na minha mente para qualquer celebração com este sacerdote - que gostoso é dar risada disso hoje!

Através do Pe. João Derickx (que deve estar fazendo festa no Céu, porque era um sonho ver este dia chegar) pude ir desbravando um outro CID, desta vez, um Cid que na intimidade, provava que as três simples letras de seu apelido era reflexo da leveza de sua essência. Não era só “aquele padre rígido no Altar”, era um padre-amigo, que corrigia sempre porque de tão leve, era livre, e de tão livre: sempre verdadeiro! Não poucas vezes pude conviver com aquele padre e o admirava porque ele sabia falar de absolutamente tudo, sempre simples nas palavras, profundo no conhecimento. 

Mas a vida tem dessas coisas, repito. Fui pro Seminário, logo o Pe. Joãozinho faleceu, alguns meses depois o Pe. Beá (meu pároco que me enviou pro Seminário), e me senti um pouco órfão - esta é uma verdade um tanto difícil de assumir para mim mesmo, confesso. Todavia, Deus foi me dando muitos referenciais e a oportunidade de ter, em minha caminhada, conhecido muitos sacerdotes íntegros e exemplares, entre eles: Monsenhor Cid. 

E aí que chegou um ano, 2015, e fui para o estágio pastoral no Santuário de Fátima, era naquele tempo um “ideal seminarístico de pastoral”, rs. Eu me lembro que tremi quando pensei de como seria conviver, morar, compartilhar a vida inteira nos finais de semana com ele, que à época era o pároco da referida paróquia. Mas, foi ali, nos auspícios da Virgem de Fátima que minha amizade com ele se solidificou. Não havia mais medo, na verdade, o medo que existia era de desperdiçar um só segundo que fosse ao lado de alguém tão inteligente e fecundo em todos os seus projetos e sonhos. Era um sacerdote completamente exemplar! E Pai! Não esqueço do cuidado que tinha quase todos os finais de semana ao perguntar se precisávamos do básico, tampouco de quando vinha de algum lugar e trazia do que ganhava para compartilhar conosco, gestos simples e belos de alguém que sabia ser fraterno na convivência. Sentar à mesa nos finais de semana era um oásis, a boa prosa era o prato mais apetitoso que se tinha naquela casa. De brinde, gotículas de um oceano da História da Igreja, sobretudo da minha, da nossa, amada Igreja de Belém. Naquela mesa se partilhava, acima de tudo, a vida. 


No serviço litúrgico no Santuário de Fátima, na Vigília Pascal mais bonita que já participei!

Poucos sabem, mas em 2016 saí desta pastoral e fui para um outro estágio, fiquei só por um semestre e logo depois saí do Seminário. O primeiro sacerdote que procurei ao sair do Seminário foi Monsenhor Cid, e não esqueço também a acolhida que eu tive ao chorar diante dele e perceber que ele comigo partilhava daquela dor que eu sentia. Se tem uma frase que resume aquela cena, é a frase do meu teólogo favorito, o cardeal lusófono, José Tolentino de Mendonça, que afirma: “o olhar do amigo é uma âncora”. Posso testemunhar que aquele dia, eu senti isso por completo. 

E aí estava criado um vínculo de amizade que, desapercebidamente se estabeleceu entre nós. Amizade dispensa formalidades e contratos, não é mesmo? Acho que sim. E assim vivemos, seguimos e convivemos por muitos encontros e desencontros da vida. E no meu coração, o sonho do Pe. João era o meu: Monsenhor Cid merecia ser Bispo não só por sua competência, mas porque alguém tão apaixonado pela História, merecia sim SER História, deixar seu nome gravado para além das placas de paróquias por onde passou na Arquidiocese de Belém. E num gesto de nobreza do Papa Francisco, Monsenhor Cid fez história com tão pouco, porque um Mestre de simplicidade saber fazer História até mesmo com poucos instrumentos: Dom Cid será o primeiro Bispo Brasileiro na Diocese de Bragança, primeiro paraense também, vale dizer, e neste século XXI, é o primeiro Bispo a sair de nossa Arquidiocese e cidade de Belém do Pará, cidade da Senhora de Nazaré  (quiçá venham mais).

Em minha Ordenação Sacerdotal, com o sorriso mais sincero que eu poderia ter para este momento.

Assim eu concluo, porque com orgulho eu ainda desejo deixar essa página escrita para o marcante 16 de março de 2022, e o relógio já alerta para um novo dia que em minutos surgirá [edit: preocupado com as fotos, acabei passando batido e a postagem só foi ao ar nos primeiros minutos de 17/03, mas tudo bem!]. De todo modo, só queria expressar a felicidade que eu sinto hoje por ter um amigo, um irmão e um padrinho de sacerdócio chamado CID, que agora ganha mais três letras que antecedem seu nome e expressam o que é a vida dele para a Igreja na Amazônia: DOM.


P.S.: eu sei que escrevi demais, mas tem um fato que quero deixar registrado aqui ainda. Eu tinha agendado em fevereiro com o Monsenhor Cid uma formação na minha Área Missionária, onde estou trabalhando neste começo de ministério. E a data? 16/03! Olha só que engraçado, eu que esperei tanto essa nomeação, marquei um compromisso para ele, na minha primeira paróquia, justamente no dia da sua nomeação (claro que em fevereiro não sabíamos este detalhe). Todavia, exatamente 07h08 do então 16/03, antes de ser publicada a nomeação, eu decidi telefonar para ele para saber como faríamos, se ainda ficaria de pé a formação e se ele me daria a honra. Eu não sei porque ainda me surpreendo com a integridade do Monsenhor… Como se fosse uma desfeita para ele mesmo desfazer seu compromisso, pediu que eu o mantivesse porque havia se comprometido e confirmado comigo dias atrás (mesmo quando já sabia da sua nomeação). Mas a programação do dia acabou por fazer que horas depois ele novamente ligasse e pedisse desculpas por ter de desmarcar, haja vista que sua comunidade paroquial, justissimamente (hipérbole, eu sei), quisesse com ele celebrar a noite da marcante data. Que exemplo de humildade e firmeza diante da sua palavra!